anônimo

João Guilherm /

“This story is not directly mine. It’s about a young man that I do not know the name, do not know the age, do not know his dreams, but I know about his pain.
It is about a man that I had a lot of anger before, but that now the anger comes accompanied by pity and forgiveness.

It was a december night and I was alone at the bus stop. Next to me was this apparently heterosexual and middle-class boy, visibly bothered by my presence. 
At one point he looked at me, I tried not to face him, and then he called me a “faggot.”
I had already lowered my head many times for comments like these, but that night I did not stand the anguish inside of me and I answered “yes, I am”. Then, he cursed even more and I retaliated, when I realized that he was putting me against the wall. He took a penknife out of his pocket, still cursing, and I just could not react.

I could see his hate increasing and dominating that street. He started to touch me in a different way, although still aggressively. He raped me. He run away. He run away, crying.

I spent more than a year inside that night. Thinking about each detail, about what I could have done, and what I was going to do to get better. I got all my awnsers, I was able to find myself again and come back to my good life.

Then I started to think about him. His motivation. He seemed to have a nice family, he was young, he probably had fun with his friends on a regular basis. He probably went out to drink, kiss, and have sex with girls. He probably used to go to church. What would lead a man like this to have that attitude? The awnser came from inside of me.

I came out when I was thirteen. Even if my family was not always supportive, nowadays we are in peace. I always had friends to support me and I always worked really hard to love my sexuality. To love who I am.

This young man, however, must have grown up with his homosexuality/bisexuality repressed, like so many of us, but never passed by the grace of enjoying who he really is. He probably grew up in a homophobic background and always saw his sexuality as something bad.

I was a threat to him. I was comfortable with my body, with my mind, with my clothes, with Gaga playing in my headphones. It was too much for him. It was too much a “faggot” facing him and affirming – with pride and without fear – his queerness. He exploded. He made a mistake. I blamed him and I still do. But now I know what led him to this.

LGBTphobia does not affect only the people who “came out”. She reaches everyone who could not build a healthy mind, who are not happy with their bodies and who are not able to accept who they are. LGBTphobia creates sick people, instable families and agressions as the one that I suffered and that so many others suffered to. We must fight together, with our families, friends and teachers. Every human being is able and have to fight against any kind of prejudice.

This guy will probably feel guilty for the rest of his life, and also the burden of never being able to be who he really is. But I will keep fighting for him too.”

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“Essa história não é diretamente minha. É sobre um jovem que eu não sei o nome, não sei a idade, não sei seus sonhos, mas eu sei sobre sua dor. É sobre um homem que eu tive muita raiva, mas hoje ela  vem acompanhada com pena e perdão.

Era uma madrugada de dezembro e eu estava sozinho no ponto de ônibus. Próximo à mim havia esse rapaz, aparentemente hétero e de classe média, que estava visivelmente desconfortável com a minha presença. Em um determinado momento ele me olhou, eu tentei não encarar ele, e logo em seguida ele me chamou de “bichinha”. Eu já havia abaixado a cabeça muitas vezes pra comentários como esses, não suportei a angústia dentro de mim e disse que eu era bicha sim. Logo em seguida ele me xingou mais ainda, eu revidei, mas quando eu vi ele estava me colocando contra a parede. Ele tirou um canivete do bolso, continuou xingando e eu não conseguia reagir.

Segundos depois eu conseguia ver o ódio dele aumentando e dominando aquela rua. Ele começou a me tocar diferente mas manteve o ar bruto. Posteriormente ele me estuprou. Ele saiu correndo. Ele saiu correndo e chorando.

Passei mais de um ano dentro dessa noite. Pensando em cada detalhe, pensando no que eu poderia ter feito e no que eu faria pra melhorar. Consegui todas as minhas respostas, consegui me achar e voltar a minha boa vida.

Aí eu comecei a pensar nele. No que motivou ele a tomar essa atitude. Ele aparentava ser de uma família estável, era jovem, devia se divertir regularmente com os amigos, devia sair pra beber, beijar, transar com garotas, ir a igreja. O que levaria um homem como esse tomar tal atitude? A minha resposta veio de dentro de mim.

Eu sou assumido desde os 13 anos, minha família nem sempre me apoiou mas hoje eu encontrei a paz com eles, sempre tive amigos que me apoiaram e sempre trabalhei muito pra amar minha sexualidade. Amar o que eu sou.

Já esse menino deve ter crescido com sua homossexualidade/bissexualidade reprimida, como muitos de nós, mas nunca passou pela graça de saborear quem ele realmente é. Provavelmente cresceu em um meio homofóbico e sempre viu sua sexualidade como algo ruim. Eu fui uma ameaça pra ele. Eu estava confortável com meu corpo, com minha mente, com minhas roupas, com minha Lady Gaga tocando no meu fone. Isso tudo era demais pra ele. Pra ele foi demais uma “bicha” enfrentar ele e dizer que é “bicha” sim, dizer isso com orgulho e sem medo. Ele explodiu. Ele errou. Eu o culpei, e ainda o culpo, mas agora eu sei o que o tornou assim.

A LGBTfobia não atinge só as pessoas que “saíram do armário”. Ela atinge todos que não puderam construir uma mente saudável, que não são felizes dentro de seus corpos, que não se aceitam. A LGBTfobia cria pessoas doentes, famílias instáveis e agressões como a que eu sofri e que muitos outros sofrem. Devemos lutar juntos, com nossas famílias, amigos, professores… Todo ser humano pode lutar, e deve, contra qualquer tipo de preconceito. Esse rapaz provavelmente carregará uma culpa pelo resto da vida, e de repente o fardo de nunca poder ser quem ele é. Mas eu seguirei lutando por ele também.”

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